CARA DE CORUJA
I — PREPARATIVOS
DONA Benta estava ensinando Pedrinho a cortar as unhas da mão direita quando Emilia appareceu na porta e piscou para elle com os olhos novos de seda azul, que a menina lhe havia dado na vespera. Pedrinho respondeu á piscadela com outra, que na linguagem do "pisco", como dizia a boneca, significava: "Que ha de novo?"
— Narizinho está chamando! respondeu Emilia tão baixinho que dona Benta nada percebeu.
— Para que? indagou o menino ainda na lingua do "pisco".
— Para ajudar a arrumar a sala e salvar o visconde.
Desta vez dona Benta pilhou a palavra arrumar e erguendo os oculos para a testa perguntou:
— Que arrumação é essa, Pedrinho?
— Não é nada, vóvó, respondeu elle. E' uma festinha que vamos dar aos nossos amigos do paiz das maravilhas.
— Quer dizer que vamos ter novamente aqui o principe e aquelles bichinhos todos do mar...
Pedrinho riu-se.
— A senhora não entende disto... Eu disse — amigos do paiz das maravilhas, e não do reino das Aguas Claras. Ha muita differença.
— Pois vá receber seus amigos, disse dona Benta depois que acabou de lhe aparar as unhas, mas primeiro lave essa cara. Você comeu manga e está com dois bigodes amarellos.
— Foi de proposito, vóvó, inventou o menino. Quero que elles pensem que sou o conde dos Bigodes de Manga!...
Narizinho estava muito atrapalhada para salvar o vis-