pela boneca, pois apressou-se em fazer uma mesura e declarar, todo delambido:
— Dona Emilia manda, não pede.
— Pois então venhà commigo, e Emilia, sem mais cerimonias, o levou para certo lugar no campo, para lá da porteira, onde havia um velho tronco de pau, cahido á beira do caminho que ia ter á floresta.
— Pedrinho, disse ella, costuma passar por aqui quando volta da matta onde anda procurando o pau vivente. E como está que não pode passar por perto de pau nenhum sem dar um golpe, já estou vendo o geitinho delle: chega, pára e — pan! machadada neste trouco. Pois bem, vosmecê me vae ficar escondido num ôco deste pau, e assim que elle chegar, parar e der o golpe, vosmecê vae gemer — mas gemer bem gemido, com voz rouca de pau velho, está entendendo?
— Mas para que isso? atreveu-se o sabio a perguntar.
— Não é da sua conta, visconde. Faça o que estou dizendo e não discuta.
Nisto Pedrinho apontou lá longe, de machadinho ao hombro.
— Depressa! Depressa, visconde! disse Emilia, empurrando o sabio para dentro do ôco. Elle vem vindo!...
O visconde entrou para o ôco e ella correu para casa antes que o menino a visse por alli e desconfiasse.
Pedrinho chegou e fez como fôra previsto. Parou e — pan! — machadada. Mas fez aquillo por fazer, pela força do habito, porque já não tinha a menor esperança de encontrar pau vivente nenhum. Com immensa surpreza sua, porem, o tronco gemeu, ai! ai! ai! o que o fez dar um pulo como se tivesse pisado em cobra.
— Homessa! exclamou, arregalando os olhos. Será possivel que este tronco tenha gemido ou foi illusão minha?
Para certificar-se deu novos golpes, mas de longe, meio resabiado.
— Ai! ai! ai! gemeu novamente o tronco.