Página:As Reinações de Narizinho.pdf/216

Wikisource, a biblioteca livre
MONTEIRO LOBATO
205

IV — A ZANGA DE EMILIA


Narizinho foi dalli espiar o que Emilia estava fazendo. Encontrou-a no cantinho de sala onde era o seu quarto, muito atarefada em botar seus vestidos e brinquedos nas caixas de phosphoro que lhe serviam de mala. Mas notou que Emilia só botava os vestidos e brinquedos que ella, Narizinho, lhe havia dado. Os outros, dados pela negra, jaziam no chão, amarrotados e pisados aos pés.

Emilia estava seriamente offendida e sem duvida nenhuma preparava-se para alguma viagem. Ia arrumando as malas, ao mesmo tempo que dialogava com o cavallinho.

— Não é atôa que ella é preta como carvão.

— ?

— Mentira de Narizinho! Essa negra não é fada nenhuma, nem nunca foi branca. Nasceu preta e ainda mais preta ha de morrer.

— ?

— Boa? Está muito enganado. Mais malvada que ella só o Barba Azul. Você é porque é novo nesta casa e não a conhece. Tia Nastacia não tem dó de nada. Péga aquelles frangos tão lindos e — zás! torce-lhes o pescoço. Mata patos, mata perús, mata camondongos — não ha o que não mate. Outro dia, no Natal, a diaba assassinou um irmão de Rabicó, tão bonitinho! Pegou naquella faca de ponta que móra na cozinha e — fuqt! enfiou dentro delle, até lá no fundo. E pensa que foi só isso? Está enganado! Depois pellou o coitadinho numa agua bem fervendo e assou o coitadinho num forno tão quente que nem se podia chegar perto.

— ?

— Como não? Você não é melhor que os frangos, perús e leitões. Essa é uma das razões porque quero ir-me embora: para tirar você daqui antes que a malvada mate e asse