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A colera de Emilia já havia passado, cedendo lugar a sentimento muito mais lucrativo. Porisso tratou immediatamente de tirar lucro da situação, pedindo uma coisa que era o seu encanto.

— Só se ella me der aquelle alfinete de pombinha que você sabe.

— Dá sim. Eu peço-lhe que dê e ella dá.

— Nesse caso, fico de bem com ella outra vez.

Aquelle alfinete andava deixando Emilia doente. Era um alfinete do tempo de dantes, que hoje não se encontra em loja nenhuma. De aço azul, tendo em vez de cabeça uma pombinha de vidro colorido. Tia Nastacia possuia tres, um de pombinha azul, outro de pombinha verde, outro de pombinha carijó. Era este que Emilia queria — mas queria desesperadamente como nunca neste mundo uma boneca quiz uma coisa.


V ― JOÃO FAZDECONTA

Tia Nastacia fechara-se na cozinha para fazer o boneco com todo o seu sossego. Uma hora depois reappareceu na sala com a sua obra prima na mão.

― Prompto! Não ficou bonito, mas está muito sympathico, disse, mostrando o producto do seu engenho e arte.

Houve um "Oh" geral de decepção, porque realmente não se poderia imaginar coisa mais feia, nem mais desageitada. Os braços sahiam do meio do corpo, quasi; os pés não tinham geito de pés; o nariz era um phosphoro cabeçudo espetado no meio da cara; e a cabeça, em forma de castanha de cajú, estava pregada aos hombros por meio de um prego torto, cuja ponta apparecia nas costas.

Pedrinho chegou a ficar damnado.

― Que vergonha, tia Nastacia! Você fez um monstro que não pode ser mostrado a ninguem. Desmoraliza a familia!