A gente não sabe para onde se virar, fica-se como cégo. Assim estava Pedrinho e para mais atrapalhal-o a voz ora vinha da direita, ora da esquerda.
— Deve ser muito bom ser invisivel, disse Pedrinho. Quantas vezes conversamos sobre isso, eu e Narizinho!...
— Quem é ella?
— Minha prima Lucia, a menina do narizinho arrebitado. Narizinho tambem quer ficar invisivel. Você ensina?
— Ensino aos dois, se merecerem.
— E que temos de fazer para merecer?
— Viajar commigo pelo Mundo das Maravilhas. E' lá que se tira a prova de quem merece ou não receber este dom das fadas. O primeiro menino invisivel que ainda appareceu no mundo fui eu, mas me sinto muito só. Preciso de companheiros. Porisso vim.
— Obrigado pela lembrança. Mas onde é esse Mundo das Maravilhas?
— Em toda a parte. Olhe, tenho aqui o mappa delle, disse a voz tirando do bolso um papel dobrado.
Pedrinho achou muita graça em ver o mappa dobrado abrir-se no ar, como se se abrisse por si mesmo. Espichou a mão, pegou-o e examinou-o.
— Que bonito! exclamou depois de ler os nomes de todas as terras e mares. Até o sitio de vóvó está marcado, com o chiqueirinho de Rabicó bem visivel. Como obteve este mappa?
— Viajando de lapis na mão. O Mundo das Maravilhas é velhissimo. Começou a existir quando nasceu a primeira creança e ha de existir emquanto houver um velho sobre a terra.
— E' difficil ir lá?
— Facilimo ou impossivel. Depende. Para quem possue imaginação, é facilimo.
Pedrinho não entendeu muito bem. A voz dizia ás vezes coisas sem proposito — talvez para o atrapalhar.