V — EMILIA E LAFONTAINE
Narizinho sabia duas palavras em francez — "bon jour" e "au revoir". Os outros não sabiam nenhuma. Em vista disso os outros a empurraram para falar com o fabulista. A menina atrapalhou-se já no começo, e, em vez de dizer "bon jour", disse:
— "Au revoir", senhor de Lafontaine! Acabamos de chegar do sitio de vóvó e vimos a bengalada que o senhor pregou no focinho daquelle lobo antipathico. Muito bem feito. Queira acceitar nossos parabens. "Bom jour".
O fabulista achou muita graça em tanta innocencia e, erguendo-a do chão, deu-lhe um beijo na testa. Depois disse:
— Não precisa falar francez commigo. Entendo todas as linguas, tanto dos animaes como das gentes.
Os outros o haviam rodeado, inclusive Emilia, que deixou para brincar com o carneirinho depois. Estava ella muito admirada das roupas do fabulista. Homem de gola e punnhos de renda, onde já se viu isso? E aquella cabelleira de cachos, feito mulher! Quem sabe se o coitado não tinha tesoura? pensou a boneca.
O senhor de Lafontaine conversou com todos amavelmente, dizendo que era aquelle o lugar do mundo que mais gostava. Ouvia os animaes falarem, aprendia muita coisa e depois punha em verso as historias.
— Eu já li algumas das suas fabulas, disse Pedrinho. O senhor escreve muito bem.
— Acha? disse o modesto sabio, sorrindo. Fico bastante contente com a sua opinião, Pedrinho, porque muitos inimigos em França me atacam, dizendo justamente o contrario.
— Não faça caso! gritou Emilia. Elles não sabem o que dizem. Pedrinho quando diz uma coisa, é porque é. Pode acreditar nelle.
— Obrigado pela consolação, bonequinha. Tua opinião