que Pedrinho contasse tudo desde o começo para que o enigma se aclarasse. Mesmo assim ficou de bocca aberta e olhos arregalados, porque nunca na sua vida tinha encontrado uma creatura invisivel.
Pedrinho chamou o fabulista de parte e disse-lhe ao ouvido:
— Ando desconfiado que esse menino é o mesmo Peter Pan. Tem o mesmo modo de falar e a mesma mania de cantar como gallo. Que é que o senhor pensa disto?
O pobre fabulista, que não tinha a menor idéa de quem fosse Peter Pan, menino descoberto na Inglaterra muito recentemente, não poude dar opinião a respeito.
— Não sei, Pedrinho. Vocês estão a falar em coisas muito novas para um homem tão antigo como eu.
Depois, vendo o sol já alto, disse:
— Aproveitemos nosso tempo, assistindo a mais uma fabula hoje.
Disse e dirigiu os passos para um sitio onde havia uma arvore com cigarra cantando num galhinho. Todos o acompanharam. Pedrinho ia rente. Prestava a maior attenção nos menores movimentos do fabulista porque desejava aprender a escrever fabulas lindas como as delle. Até da marca e numero do lapis que o senhor de Lafontaine usava o menino tomou nota, para comprar um igual.
Pelo caminho Emilia creou coragem e, collocando-se longe de Narizinho, para evitar algum beliscão, disse para o sabio :
— Em troca da tesoura eu quero uma coisa, senhor de Lafontaine.
— Diga lá o que é, bonequinha.
— Quero uma fabula.
— Uma fabula duma perna só? caçoou elle.
— Uma fabula onde appareça um carneirinho, uma boneca de panno e um tatú canastra.