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A PENNA DE PAPAGAIO

risadas caçoistas e disse, antes que a menina pudesse atrapalhar :

— O senhor está fazendo papel de bobo, senhor de Lafontaine! Aquillo nunca foi canto de gallo, nem aqui nem na casa do seu sogro. E' o Penninha que vem vindo.

Narizinho, envergonhada, tapou-lhe a bocca com a mão e ralhou:

— Como chama de bobo um homem tão importante, Emilia? Vóvó, quando souber, vae ficar damnada!...

Nisto a penna de papagaio appareceu fluctuando no ar, vinda da floresta, em companhia dum homem exquisito. Todos voltaram-se para ver.

— Quem será o bicho careta? Com certeza algum homem que estava tomando banho e perdeu as roupas, berrou Emilia. Vem embrulhado na toalha.

O senhor de Lafontaine explicou quem era.

— Estás enganada, bonequinha. Aquelle homem é um famoso fabulista grego. Não vem embrulhado em nenhuma toalha, mas sim vestido á moda dos antigos gregos. Chama-se Esopo. Foi o primeiro que teve a idéa de escrever fabulas.

Esopo chegou e saudou cortezmente o fabulista francez. Depois fez festas ás creanças. Vendo Emilia, admirou-se.

— Oh, uma bonequinha tambem! Era o unico ente que faltava nestas terras. E' falante?

— E', sim. Emilia fala pelos cotovellos, respondeu Narizinho.

A admiração de Esopo foi grande, porque apezar de velho nunca tinha sabido de nenhuma boneca que falasse.

— E' extraordinario! disse elle. Bonecas vi muitas em Athenas, mas mudas. O mundo tem progredido, não resta duvida. Como te chamas, bonequinha?

— Emilia de Rabicó, sua creada.

— Lindo nome. E quem te ensinou a falar?

— Ninguem, respondeu Emilia com todo o espevitamento. Nasci sabendo. Quando o doutor Caramujo me deu