— Ao Mar dos Piratas temos de ir com o Penninha. E' coisa para outro dia. Hoje vamos apenas dar um pulinho ao Paiz das Fabulas para apresentar vovó ao senhor de Lafontaine.
— E porque não apresentar dona Benta a um pirata? Os piratas são muito mais interessantes que os fabulistas.
— Para você. Vovó prefere meia hora de prosa com um fabulista a todos os piratas do mundo.
— Então não vou, disse Emilia emburrando.
— Sua alma, sua palma, respondeu seccamente a menina, tirando-a do bolso. Ninguem a obriga — e fez gesto de a arremessar ao chão.
Vendo que o negocio era sério, Emilia fez uma cara de riso, muito desconchavada, dizendo:
— Estou brincando, boba!...
Todos cheiraram o pó de pirlimpimpim, e immediatamente começaram a sentir a vista turva, a cabeça tonta, com uma zoada de pião nos ouvidos — fiunnn...
— Dona Benta, assustada, quiz apear-se.
— Parece que vou morrer! gritou. Acudam-me!...
— Não tenha medo, vóvó! E 'assim mesmo! Este fiunnn dura emquanto estivermos voando. Depois pára — signal de chegada.
De facto foi assim. O fiunnn zuniu no ouvido delles por longo tempo e por fim cessou.
— Chegamos! disse Pedrinho, saltando em terra. Póde apear, vovó.
Dona Benta estava mais morta que viva.
— Uf! exclamou, escorregando do burro abaixo. Estou muito velha para estas maluquices. O tal fiunnn me deixou tonta, tonta...