Página:As asas de um anjo.djvu/205

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CENA III

CAROLINA, LUÍS E MENESES.

CAROLINA – O senhor defende esta injustiça?

MENESES – Defendo a lei social que na minha opinião deve ser respeitada até mesmo nos seus prejuízos. Como filósofo posso condenar algumas aberrações da sociedade; como cidadão curvo-me a elas e não discuto.

CAROLINA – Mas por que razão toda a falta recai unicamente sobre a parte mais fraca? MENESES – Porque a virtude de uma senhora é um bem tão precioso, que quando ela o dá a um homem eleva-o rebaixando-se.

CAROLINA – E a sociedade aproveita-se desse erro, aplaude o vencedor, e encoraja-o para novas conquistas?

MENESES – Toda a virtude que não luta, não é virtude; é um hábito. Se não houvesse sedutores a honestidade seria uma cousa sem merecimento! Creia-me, Carolina, o mundo é feito assim; deixemos falar os moralistas; eles podem dizer muita palavra bonita, mas não mudaram nem uma pedra desse edifício social que as maiores revoluções não tem podido abater.

CAROLINA – Ouves, Luís; tudo se defende, menos a falta de uma pobre mulher.