Página:As organizações no ciberespaço.djvu/70

Wikisource, a biblioteca livre

Ainda nesse modelo de comunidades, em virtude da enorme capacidade advinda da tecnologia eletrônica, podem ser criados espetáculos que proporcionam uma chance de participação e um foco compartilhado de atenção a uma multidão indeterminada e de espectadores fisicamente remotos.

Segundo Levy (1993), são as pessoas que povoam e alimentam o ciberespaço que constituem sua maior riqueza. E a imersão em comunidades abertas de pesquisa, de prática e de debate imuniza de forma mais segura que qualquer outro antídoto contra o dogmatismo e a manipulação unilateral da informação.

"Uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma base de afinidade por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses, pelos mesmos problemas: a geografia, contingente, não é mais nem um ponto de partida, nem uma coerção. Apesar de 'não-presente', essa comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos e de amizades. Ela vive sem lugar de referência estável: em toda parte onde se encontrem seus membros móveis... ou em parte alguma. A virtualização reinventa uma cultura nômade, não por uma volta ao paleolítico nem às antigas civilizações de pastores, mas fazendo surgir um meio de interações sociais onde as relações se reconfiguram com um mínimo de inércia." (LEVY, 1996, p. 20)

Nesse contexto, observa-se que a virtualidade rompe com as barreiras geográficas e temporais em benefício do relacionamento humano. O ciberespaço fornece, portanto, meios para uma volta ao agrupamento humano em comunidades.

Para o autor, "conectadas ao universo, as comunidades virtuais constroem e dissolvem constantemente suas micrototalidades dinâmicas, emergentes, imersas, derivando entre as correntes turbilhonantes do novo dilúvio." (LEVY, 1999, p. 128) Propõe que a humanidade possui, quanto à sua universalidade, três grandes etapas em sua história: a das pequenas sociedades fechadas, de cultura oral, que vivem uma totalidade sem universalidade, a das sociedades "civilizadas", imperialistas, usuárias da escrita, que fizeram surgir um universal totalizante, por último, a da cibercultura, correspondendo à globalização concreta das sociedades, que inventa um universal sem totalidade. Universal pela presença virtual da humanidade para si mesma e não total pela não existência de um fechamento semântico abrangente.