Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/18

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coração e uma só vontade. não temos parentes por aqui. Todos os nossos parentes vivem longe, no Rio Grande do Sul. Se seu morresse, ficariam vocês desamparados; e, se não fossem muito amigos e muito unidos, a desgraça seria terrível...”

Havia já dois meses que o pai partira. Carlos e Alfredo, no colégio, estudavam, e tinham um pelo outro uma amizade que nenhuma divergência alterava. O que era de um era do outro; o que um pensava, também o outro pensava. Não havia entre eles segredos, nem desconfianças, nem brigas. Ligados pelos laços de sangue, eram ainda mais ligados pelos laços do afeto. Compreendiam a responsabilidade da sua condição, e esperavam com confiança um futuro melhor.

Em certa manhã de domingo, quando iam sair a passeio, receberam um telegrama. O pai estava doente. Doente “sem gravidade”, - dizia o telegrama. Os dois meninos, porém, num sobressalto, imaginaram logo uma desgraça: “O pai estava tão longe, num lugar quase deserto, num sertão bruto, onde ainda havia, talvez, índios ferozes, - e estava ente estranhos, sem um amigo!... Que moléstia seria a sua? e se o seu estado se agravasse, - se ele morresse, assim, sozinho, abandonado, sem ter o consolo de poder dar a última Bênção aos filhos?”

Carlos, o mais velho, disse logo, com os olhos rasos de água.

— Sabes, Alfredo? não me resigno a esta incerteza! Vou para junto de papai... E vou já! Nem previno o diretor do colégio, porque receio que