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legado, cuja legitimidade não poderia provar.

À noite, o cadáver foi levado pela família e pelos três rapazes. O genro — chamava-se Oliveira — quis conhecer os nomes e a história dos meninos. Carlos contou-lhe sumariamente o que lhes havia acontecido até então. Oliveira, quando soube das precárias condições em que eles estavam realizando a sua viagem, quis imediatamente facilitar-lhes todos os recursos para o transporte até a Baía.

— Digam! Digam o que desejam! Digam quanto querem! Que tudo quanto eu lhes der será ainda pouco para lhes pagar o favor que lhes devo!

— Não, senhor! — protestou Carlos — nada nos deve! Cumprimos apenas o nosso dever. Qualquer outra pessoa teria feito o que fizemos... E nada podemos aceitar.

— Menino! — disse Oliveira, com carinho — por que há de ser orgulhoso? É necessário que todos nos ajudemos nesta vida! Pensa, então, que depois do socorro que prestou ao meu sogro, e da probidade, de que deu prova, entregando-me o dinheiro, hei de consentir que vão daqui até a Baía, a pé, e sem recursos? Está muito enganado!

Carlos ia ainda protestar. Mas Juvêncio interveio, com bom senso:

— Tudo se pode arranjar, a contento geral...

E dirigindo-se a Oliveira:

— O senhor empresta-nos algum dinheiro com que possamos tomar passagem de Segunda classe até a Baía. Estes meninos têm parentes no Rio Grande do Sul; e há na Baía um negociante,