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dois tratantes que entravam pé ante pé. Um deles trazia uma lanterna. Aproximaram-se da rede: fechei os olhos e fingi que ressonava. Acreditaram que eu dormia, e começaram a passar revista no quarto; esquadrinharam a minha maleta, remexeram todos os bolsos da minha roupa, espiaram debaixo da mesinha, revistaram até as minhas botas. Depois, um deles, veio apalpar-me com toda a cautela, enquanto eu ressonava mais alto ainda; quando viram que nada achariam, saíram com o mesmo cuidado com que haviam entrado, — e fiquei rindo sozinho... — Os idiotas lembraram-se de tudo, menos de levantar a bacia!

— É boa! — exclamou Alfredo — mas olhe que o senhor esteve com a vida em perigo!

— Não há dúvida! Mas salvei-me, salvei o dinheiro do patrão, e ainda hei de salvar-me muitas vezes, graças ao meu sangue frio e aos estratagemas que invento!

Com essa e outras conversas, passava-se o tempo. Ouviu-se um estrondo forte: era o trem que começava a passar uma longa ponte

É a ponte da plataforma! — disse Manuel. — Já estamos sobre o mar.

E, dali a poucos minutos, o trem chegava ao termo da viagem. Os dois irmãos e Juvêncio despediram-se de Manuel, e foram procurar a casa do negociante, autor do anúncio.