Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/212

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— Ora aqui estão os heróis de um romance! — disse o negociante, ao entrar na sala. — São os filhos do Dr. Meneses, que tinham desaparecido do colégio.

— Jesus! — exclamou a senhora, levantando-se — como foi isso, meninos?

— Tá! Tá! Tá! — interrompeu o negociante, rindo — por ora, creio que eles não poderão contar como foi, porque devem estar caindo de fome! Vamos dar-lhes de cear, e ouvi-los-emos depois.

Daí a pouco, servida uma ceia de carnes frias e de doces, Carlos, que já se sentia bem naquela atmosfera de família, começava a contar a sua história. Disse, sumariamente, como soubera da doença do pai, como saíra à procura dele em companhia do irmão, como tinha recebido a notícia da morte, e como viera até ali, entre mil perigos e dificuldades. A narração foi sucinta, mas, ainda assim, durou mais de uma hora, durante a qual o negociante, a mulher, e os filhos não continham por vezes a admiração e as lágrimas, ouvindo a relação de tantos riscos e tormentos. Carlos, apesar de resumir o mais possível a narrativa, não esqueceu o encontro com Juvêncio, nem os serviços que este lhe prestou, nem a doença do irmão...

— Coitados! — diziam compassivamente, de quando em quando, a senhora e as filhas.

Quando Carlos acabou de falar, houve na sala um silêncio comovido. O negociante foi o primeiro a rompê-lo, dizendo:

— Pois, meninos, eu não conheci pessoalmente seu pai. Sou apenas correspondente de