Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/24

Wikisource, a biblioteca livre

do carro; mas, infeliz, pisou, em cheio sobre um embrulho que estava no chão. Era a matalotagem de um passageiro que dormia. Com o ruído, o homem acordou, e, vendo o embrulho machucado, levantou-se furioso contra o menino. Alfredo desculpou-se; mas o bruto a nada atendia, nem às explicações de Carlos, que, vindo em socorro do irmão, mostrava a causa de sua queda. O pequeno de fato, tinha um dos olhos vermelho e lacrimejante... Em vão! o homem esbravejava, e dispunha-se a espancar os meninos, quando um outro passageiro interveio:

— Hem! bater nesses dois pirralhos?! Você não se envergonha de dizer tal cousa, homem? Você, um homem forte, a fazer-se de valente para duas crianças!

A esse protesto juntaram-se logo os dos outros viajantes, – e o malcriado, corrido de vergonha, foi outra vez encafuar-se no seu canto.

O interessante foi que, com o episódio da altercação, Alfredo esqueceu o argueiro,e, quando pensou nele, já não o sentiu.

O trem parou. Era hora do almoço. Enquanto os viajantes saíam, e iam ao restaurante da estação, Caros desembrulhou dois pedaços de pão, com uma fatia de carne cada um, – que comprara antes de tomar o trem.

Alfredo, sempre curioso, enquanto mordia o pão e a carne, não tirava os olhos da casinhola da estação, do movimento da gente, da montanha que já aparecia mais perto, dos grandes blocos de pedra que se amontoavam à margem da estrada, do carvão que os carregadores levavam para a máquina.