Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/51

Wikisource, a biblioteca livre

nuvens vermelhas. Carlos, pensando sempre na moléstia do pai, ia concentrado e apreensivo.

Foi o camarada quem, de repente, rompeu o silêncio:

— Estamos perto!

O sol acabava de desaparecer no horizonte. Os viajantes acharam-se defronte de uma cancela ou porteira de bater. Benvindo adiantou o animal, abriu-a e ficou a segurá-la, enquanto os dois irmãos passavam.

— Estamos no pasto do capitão Paulo, — disse ele. — Ali, naquela casa, é que vamos pousar.

A casa ficava a uns trezentos metros de distância, bem visível, ao fundo do terreno chato.

Logo ao entrar, Alfredo assustou-se, e não pôde disfarçar o susto. O terreno estava cheio de bois, uns deitados, outros de pé, ruminando. Mas os animais ficaram como estavam, limitando-se a acompanhar os recém-chegados com os seus grandes olhos pensativos e mansos. Dez minutos depois, os três viajantes batiam à porta da casa. Era um casarão de aspecto feio, largo e baixo, com um telheiro ao lado, e um copiar na frente. Apareceu uma criada, que, reconhecendo Benvindo, foi logo chamar o dono da casa, que se não demorou, — um homem de fisionomia franca e agradável, apesar da sua aparente severidade, — e ainda robusto, apesar dos cinqüenta e tantos anos que devia ter. Entrou, dando as boas noites e, olhando Carlos, pareceu logo reconhecê-lo. O rapaz, por sua vez, assim que o viu, exclamou:

— Oh! Senhor Silveira! O senhor não é pai do Ramiro e do Afonso?