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corpo de delito num rapaz que saiu ferido do samba... Mas, coitados! É o único divertimento que têm!

E levou consigo os dois meninos.

Por trás da casa da fazenda, corria uma fila de casinhas da taipa, com uma só porta. Em frente a elas, num terreiro batido e limpo, estavam reunidas umas vinte pessoas, quase todos homens, — pretos, caboclos e mulatos. Formavam círculo, uns sentados no chão, outros sobre os calcanhares, ou firmando na terra os joelhos e as pontas dos pés. No centro do círculo, o Benvindo sentado sobre uma pedra, empunhava a viola. Ao lado, de pé, um mulato, talvez de vinte anos de idade, rufava o pandeiro. Os dois cantavam em desafio. Uma fogueira, acesa a pequena distância, espancava as trevas, e alumiava a cena pitoresca.

O mulato cantou:

Já chegou, já está cantando:

Canta no seco e na lama;

Caboclo, tome sentido!

Quero ver a sua fama!

Benvindo respondeu logo, na mesma toada:

Quero ver a sua fama,

Diz você; pois há de ver:

Mulato, chegou seu dia,

Você tem de padecer.

E o mulato continuou, torcendo-se todo, caindo para um e outro lado, e acompanhando com o corpo o compasso do pandeiro:

Você tem de padecer...

Quem de nós padecerá?

Caboclo a mim não me espanta,

Nem mesmo do Ceará!