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X. A CACHOEIRA DE PAULO AFONSO

— Ah! — exclamou Carlos, a cachoeira de Paulo Afonso! Vê-la é um dos meus sonhos mais ardentes! Sei de cor os versos em que Castro Alves a cantou:

“...Mas súbito da noite no arrepio

Um mugido soturno rompe as trevas...

Tibubeantes — no álveo do rio —

Tremem as lapas dos titãs coevas!...

Que grito é este sepulcral, bravio,

Que espanta as sombras ululantes, sevas?

É o brado atroador da catadupa,

Do penhasco batendo na garupa!

— Mas — disse o moço, sorrindo — por mais talento que tenha um poeta, por mais que saiba exprimir em seus versos a grandeza de uma cena, não poderá jamais descrever o que é aquele assombro! Aquilo é indescritível!

— O senhor já viu a cachoeira de perto? — perguntou Alfredo.

— Já fiz duas vezes a viagem a cavalo, só para admirá-la. E se Deus me der vida e saúde, hei de voltar.

— Conte! Conte o que viu! — exclamou o pequeno, batendo palmas.