Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/72

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Como viveriam, enquanto esperassem uma resposta? Que seria deles, naquela cidade desconhecida, no meio de gente estranha?

Não! O melhor seria guardar esse pouco dinheiro com que sempre poderiam alimentar-se, ainda que mal, durante alguns dias, e tratar de sair de Juazeiro quanto antes. Havia dois partidos a escolher: ou voltar para o Recife, ou descer para a capital da Baía; em qualquer dessas cidades encontrariam conhecidos e amigos do pai, que os socorreriam, facultando-lhes o meio melhor de se comunicarem com os parentes do Rio Grande do Sul, e dando-lhes — quem sabe? — algum dinheiro com que para lá pudessem imediatamente seguir, se não preferissem ficar à espera da resposta. Voltar ao Recife seria quase uma loucura: não poderiam fazer frente às despesas de tão longa e penosa viagem. Para a Baía, a viagem era mais fácil. Se tivessem dinheiro bastante, tomariam a estrada de ferro... Mas, sem dinheiro, era preciso vencer a pé vinte e cinco léguas até Vila Nova da Rainha, onde mais facilmente arranjariam passagem até a Baía...

Carlos não hesitou mais. Decidiu partir, e partir sem demora, sem querer perder tempo em pensar no imenso sacrifício dessa jornada a pé, por um sertão bravio, sem pouso certo, sem auxílio de qualquer espécie. E, às quatro horas, estavam a caminho. O mais velho carregava o embrulho das roupas, e o mais moço conduzia o pequeno farnel, adquirido com uma rigorosa economia, e constituído por bolachas, biscoutos e um pouco de carne seca.