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XVI. UMA HISTÓRIA

— Pois vou contar-lhes a minha história, e hão de ver que também é triste como a sua.

“Também não tenho pai, nem mãe. Meu pai, que era vaqueiro, numa fazenda perto de Cabrobó, morreu, caindo do cavalo que montava, quando saltava um barranco. Minha mãe morreu pouco depois, de bexigas. Eu tinha então ano e meio de idade, e fui recolhido à casa de meu padrinho que era o sacristão da igreja de Cabrobó. Esse homem, João Inácio, era casado, mas não tinha filhos: recebeu-me como a um verdadeiro filho, e minha madrinha foi para mim uma verdadeira mãe dedicada, extremosa. Assim que completei sete anos, aprendi a ler, a escrever e a contar: e meu padrinho, querendo fazer de mim um homem, quis que eu começasse a estudar um “ofício”. O ofício escolhido foi o de alfaiate.

“Logo nos primeiros dias, desgostei-me dessa profissão. Não me agradava ficar sentado durante todo o dia, com a agulha na mão, como uma mulher. O meu desejo era poder andar, agitar-me, mover-me, — empregar-me em qualquer trabalho que me permitisse sair e bracejar. Além disso, antipatizei