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MONTEIRO LOBATO

Hans, está claro, respondeu o que podia responder, mas teve a habilidade de acrescentar :

— "Meu parecer é que os tupiniquins vêm vindo ao nosso encontro".

Como era quasi certo que assim fosse, queria arriscar uma afirmação que o fizesse passar como profeta.

As canoas iam sem pressa, parando sempre que topavam cardumes de tainhas. Os indios pescavam-nas em grande numero, preparavam o piracui e prosseguiam na marcha.

Quando se viram a um dia de viagem da Bertioga, arrancharam-se na ilha de Maembipe, que os portugueses diziam de São Sebastião. A' noite Cunhambebe passeou pelo acampamento e fez uma fala aos guerreiros. Disse-lhes que eram chegados ás fronteiras do inimigo, e que, portanto, procurassem ter sonhos felizes, por meio dos quais guiarem-se.

Concluida a fala, houve dansa em torno dos maracás até tarde da noite.

Ao raiar do dia seguinte os chefes reuniram-se em torno duma panela de peixe frito, e enquanto comiam contaram uns aos outros os seus sonhos.

Foi depois resolvido que se entrasse nesse mesmo dia em terra inimiga, por um lugar chamado Boissucanga, onde aguardariam a noite.

Ao deixarem Maembipe perguntaram novamente a Hans o que pensava da guerra, ao que Hans respondeu, ao acaso, que em Boissucanga iriam encontrar o inimigo.

Era intenção de Hans fugir nesse ponto, distante apenas seis leguas do sitio onde o haviam capturado.