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MONTEIRO LOBATO

Logo no começo tiveram ventos contrarios, sendo os navios obrigados a procurar abrigo no porto de Lisboa. Quando o vento virou de feição partiram de novo e velejaram para as Canarias, deitando ancora na ilha da Palma. Ali tomaram provisões e combinaram reunir-se no grau 28 a Sul do equinocio, caso durante a travessia alguma tempestade os dispersasse. A nau que lá chegasse primeiro interromperia a sua derrota e esperaria as demais.

— Derrota? exclamou Pedrinho.

— Sim, derrota, afirmou dona Benta. Derrota não é só o que você sabe; é tambem o rumo, a direção que um navio leva quando singra os mares.

Feita a combinação, partiram e velejaram até Cabo Verde,,já na Africa, onde quasi foram ao fundo. Depois, sempre com maus ventos, tocaram algumas vezes nas costas africanas e alcançaram a ilha de São Tomé, pertencente ao rei de Portugal. Em seguida velejaram de novo, não tardando que uma furiosa tempestade dispersasse a pequena esquadra.

— Que azar! exclamou Pedrinho. Era preciso muita coragem para ser navegante naqueles tempos.

— Pura verdade, meu filho. A navegação a vela foi uma epopéia.

— Que é epopéia, vóvó? perguntou a menina.

— Eu sei ! exclamou o menino. Epopéia é, por exemplo, "Os Lusiadas", de Camões, não é, vóvó ?

— Não é, meu filho. Dar exemplo não é definir. Epopéia quer dizer poema em que o poeta canta uma grande empresa heroica, uma alta façanha. "Os Lusia-