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AVENTURAS DE HANS STADEN
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Hans Staden redarguiu:

— "Esses idolos não falam nada, ou se falam não dizem a verdade, porque é falso que eu seja português. Sou amigo e parente dos franceses; minha terra se chama Alemanha".

Os indios replicaram que era mentira, pois se fosse francês não estaria entre portugueses, gente inimiga dos franceses. Disseram ainda que os franceses vinham todos os anos trazer-lhes facas, machados, espelhos; pentes e tesouras, levando em troca pau-brasil, algodão, penas e pimenta. Por isso eram amigos dessa gente. Já com os portugueses fôra o contrario. Tinham vindo aquela terra muitos anos antes e logo se ligaram com os seus rivais tupiniquins. Apesar disso, eles, indios, tentaram aproximar-se e penetraram em seus navios, como costumavam fazer nos navios franceses. Mas foram miseravelmente traídos. Quando os peros viram a bordo um bom numero de tupinambás, agarraram-n'os e entregaram-n'os aos tupiniquíns, para que os comessem. Além disso mataram a tiro muitos que estavam de fóra, nas canoas. Essas e outras crueldades fizeram-lhes nascer no coração um odio de morte contra os peros.

— Quer isso dizer que se os portugueses houvessem tratado com justiça os selvagens do Brasil eles seriam amigos, observou Pedrinho.

— Certamente, respondeu dona Benta. Mas os conquistadores do novo mundo, tanto portugueses como espanhois, eram mais ferozes que os proprios selvagens. Um sentimento só os guiava : a cubiça, a ganancia, a sêde de enriquecer, e para o conseguirem não vacilaram em