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Por amor a ellas padecera já Tiradentes, que tivera, como o Christo da lenda, o seu Calvario e o seu Thabor, glorificado, morto e espostejado pela redempção da nossa patria! E era a nossa historia todo um martyrologio. Vinham vindo do mais remoto passado, antes do supplicio de Tiradentes e depois delle, uma legião de heroes e muitos feitos martyres

Deante dessa serie de antecedentes, que marcavam tantos sulcos de luz na noite fechada do nosso passado, podia o nosso egregio mestre, natureza excepcional, surgida na hora propícia para operar esse milagre positivo e real da nossa transformação politica, redizer com acerto, aos que tentassem reduzir os limites da sua numeada, como doutrinario do evangelho já prégado por tantos: plus nous aurions de précédents, mieux nous vaudrions; il faut être vu comme ancien pour être bien ancré dans tes esprits (Aug. Comte — Letires à d' Eichtal).

Tinhamos de passar da realeza para a democracia electiva, eliminando o preconceito dynasta, e estabelecendo a egualdade de todos perante a lei, a egualdade na formação da lei, pela generalidade dos suffragios, e a egualdade na execução da lei, pela temporariedade e elegibilidade das funcções quaesquer.

Eram novos e grandes destinos rasgados deante de nós, fechando o longo periodo historico, que fizera, sob o regimen da realeza, a independencia e a unidade nacional.

Nós podiamos dizer da nossa patria o que da França pôde dizer o grande P. Corneille:

«Un grand destin commence, un grand destin s'achéve
L'empire est prés de choir et la France s'eléve

Da monarchia para a republica os povos policiados passam por via da lei natural da evolução progressiva, que regula os phenomenos de ordem politica.

A republica é a fórma necessaria das nações civilisadas : é um aphorismo fundamental em sciencia politica e enunciado por Pierre Lafitte.

O grande philosopho inglez, em um dos seus memoraveis essays, denunciava, nessa submissão de um povo inteiro á vontade de um homem, o attestado de uma inferioridade mental e uma prova de baixeza de caracter: «Para conduzir uma sociedade bem fundada, civilisada, os talentos indispensaveis não são o amor ás conquistas, mas o amor á felici-