Página:Cancioneiro Geral.djvu/27

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nunca bem ſe namorou
ca o que a nos matou
mata todo namorado.

¶ Se os que ſam ja finados
& que damores morreram
podeſem ſer perguntados
dyriam que com cuydados
a vida & alma perderam.
A vida em eſperando
com cuydados & triſteza
& alma deſeſperando
eles meſmos ſe matando
cõ cuydar quee moor crueza.

¶ O cuydado deſbarata
todos grandes corações
& os aperta & os mata
com fanteſias que cata
de deſuayradas payxões,
Mas onde le amda manſo
que ſoſpiros de ſſy manda
je lemtam em ſſy abranda
ſoſpiros vem por deſcanſo.

Sua a jorge da ſilueira.

¶ Dyz ma myn meu coraçã
porque ma jſto nam calo
pera que v dou rrezão
poys v nam chega payxam
deſte cuydado que falo.
Ca ſſe v ele apertaſſe
aſy como me le aperta
& o voſo aſſy pensaſſe
diryeys que ſe julgaſſe
o cuydar por morte çerta.

Troua ſua ha dita ſeñora

¶ Cuydado de mynha vida
v chamo ſempre por nome
daqui voſſa merçe tome
ſaa hi couſa mays ſobida.
Ca couſa que ſe v chama
por milhor nome que poſſo
ora vede ſe he voſſo
quẽ de vos meſma braſfama.

Cãtigua ſua a dita ſeñora

¶ O cuydado muy ſentydo
dom de morte ſe mordena
he caues de ter marido
& eu ſempre minha pena.

E naquyſto contemprando
vay creçendo deſcomforto
que deſmayo em cuydãdo
& cayo mil vezes morto.
& fora de meu ſentydo
com tal morte coal ſordena
pera myn ver v marydo
ſem vos verdes mynha pena,

¶ Começão as razões por
ᵱte do ſoſpirar cõtra o cuy-
dado & logo frãciſco da ſyl-
ueira pcurador de ſeu jrmão

¶ Sachardes quẽ bẽ deſcarne
as rraizes do amar
dirnos ham que ſoſpirar
he partyr alma da carne.
Poys ſede bem conſelhado
nam a podes o cuydado
com ſoſpiros que ſam morte
nem ha hy quẽ nos comporte
ſe nam fyno namorado.

¶ Nam v engane cuydardes
que ſabeis allegações
nem que valentaes rrezões
pollas bem aperfyardes.
Por que quem ha de julgar
nem lhe fazer entender
preto branco pareçer
nem bom voſſo aperfyar.

¶ Porque ſoſpirar nã vem
ſe nam ja de nam ter vyda
o cuydar couſ ee ſabyda
coutros çem mil furos tem.
De mil couſas vem cuydar
aſſy com ee demandar
morgados & dar libello
entam fazer parte dello
pera vyr ao conteſtar.

¶ Nam v allego paſſados
cabem craro he de ſaber
que com ſoſpyros morrer
he ja çerto os namorados.
Mas alego v comyguo
que deſque amores ſyguo
ſempre nelles andey morto
cuydar trazya comforto
ſoſpyrar morte conſyguo

Troua ſua a dita ſeñora.

¶ Se merçe fazer queres
em al ſejaa meu cunhado
mas vyr de maes namorado
ſoſpyrar nam lhe tyres.
E a primeyro vem cuydar
& pos ele o esmayar
entam logo o ſoſpyro
que he ſenhora huũ tyro.
que faz vydas apartar.

Troua ſua ao coudel moor
em que lhe pede ajuda a ſeu
cabo neſte feyto em fauor do
ſoſpirar.

¶ Por çeſar eſta comquyſta
ſobre eſta perfya noſſa
compre n ajuda voſſa
por a couſa ſer maes vyſta.
& por jſto ſenhor queyra
voſſa merçe ter maneyra
como n aquy ajude
ca vyſto he que mal comcrude
ſeu cuydar nuno pereyra.

¶ Cantigua ſua cõtra eſtes
q̃ aperfiar querem cõtra os
ſoſpiros.

¶ Galantes mal namorados
que fordes controo que ſygo
jnda v veja tratados
de ſoſpyros tam queyrados
co meu ſam de quem nã diguo