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vejo,» e o mouro respondia: «lindos olhos que tanto vedes; correr, correr...,» e corria, corria até que chegou a casa do pae; largou a barrica e voltou para o palacio. Passado dias quiz a rapariga mandar outra barrica ao pae, e da mesma fórma mandou a outra irmã. Restava só ella; ora isso era mais difficil; mas como era muito esperta, de que se havia de lembrar! Fez uma boneca de palha, vestiu-lhe os seus vestidos, pôl-a no mirante; metteu-se na barrica, depois de ter dito ao mouro, que fosse depressa, que ella ia vel-o do mirante. Pelo caminho foi sempre dizendo: «Eu bem te vejo, eu bem te vejo.» «Lindos olhos que tanto vêdes; correr, correr.» Assim voltaram as filhas todas para casa do seu pae; e o mouro voltou ao palacio e foi-se abraçar á boneca de palha julgando ser a rapariga, e caiu do mirante abaixo morrendo logo rebentado; o palacio e o castanheiro desapareceram, pois tudo era obra de encanto.

(Coimbra.)




XXVII


O CONDE ENCANTADO

Uma avó tinha uma neta a quem queria muito mal, e um dia disse-lhe que a havia de queimar em vida; e mandou-a buscar lenha para aquecer o forno. A menina foi, muito triste, e em vez de apanhar a lenha foi caminhando, caminhando, até que avistou um palacio; aproximou-se d'elle e bateu; depois appareceu-lhe um conde, e perguntou-lhe o que ella queria: a menina respondeu, que ia ver se a queria para criada, o conde respondeu que sim. Vivia a menina muito feliz no palacio; até que elle disse-lhe um dia que se sentia muito