Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/101

Wikisource, a biblioteca livre

pae. Elle na sua cegueira assim fez. O rei quando soube d’este crime, achou-o tão atroz que deu ordem logo para que o enforcassem. Então a condessa foi contar tudo ao rei, e confessou-se culpada, dizendo que o rapaz estava innocente, e que o que fizera era pela paixão do amor. Então o rei perdoôu-lhe:

— Já que a condessa fez a sua desgraça, case agora com elle para o fazer feliz.

(Algarve.)



17. O CAVALLINHO DAS SETE CORES

Um conde tinha ficado captivo na guerra dos mouros. Levaram-no ao rei para que fizesse d’elle o que quizesse. Tinha o rei trez filhas, todas trez muito formosas, que pediram ao pae que o deixasse ficar prisioneiro no castello até que o viessem resgatar. A menina mais velha foi ter com o conde, e disse-lhe que casaria com elle, se lhe ensinasse qualquer cousa que ella não soubesse. O captivo disse:

— Pois ensino-te a minha religião, e vens comigo para o meu reino, e casaremos.

Ella não quiz. Deu-se o mesmo com a segunda.

Veiu por sua vez a menina mais moça; quiz aprender a religião, e combinaram fugir do castello, sem que o rei soubesse de nada. Disse então ella:

— Vae á cavalhariça, e hasde lá encontrar um rico cavallinho de sete côres, que corre como o pensamento. Espera por mim no pateo, á noite, e partiremos ambos.

Assim fez. A princeza appareceu com os seus vestidos de moura, com muitas joias, e á primeira palavra que disse logo o cavallinho das sete côres se pôz nas visinhanças da cidade d’onde era natural o captivo conde.

Antes de chegar á cidade havia um grande areial; o conde apeiou-se, e disse á princeza moura que esperasse