— Beije já o rabo da minha mula, senão mato-o aqui já.
N’aquelles apertos, o rei como estava ali sósinho beijou o rabo da mula.
A rapariga voltou para casa; no outro dia estava regando as flores, e o rei appareceu, e fez as perguntas do costume:
Oh menina, visto ser
De tanta discrição,
Hade-me saber dizer
Quantas folhas tem o seu manjaricão?
E ella :
Vossa magestade, que sabe
Lêr, escrever e contar,
Hade saber quantos bagos
De areia tem o mar?
E o rei:
E aquelle beijo que deu
Mesmo por cima do véo?…
Ella :
E a cabra que fez méo, méo?…
O rei:
Não se finja tão fula.
Ella:
E o beijo no rabo da mula?
O rei lembrou-se do acontecido, achou-lhe muita graça, e quando o mercador voltou á terra foi pedir-lhe a filha em casamento, porque com uma mulher tão esperta havia de ser por força muito feliz.
(Algarve.)