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— Que faz você por aqui, senhora marota?

E ella foi a elle e puchou-lhe pelas pernas, dizendo:

— Ainda me estás reprehendendo! Espera ahi.

E elle morreu afogado n’um espinho de limeira. Maria atrepou pela corda, e chegou a casa muito aborrecida e disse:

— Olhem as meninas que esta é a ultima vez.

No dia seguinte a irmã do meio desejou bananas, e tanto pediu, que Maria foi lá, onde se encontrou com o rei, que lhe disse:

— Sempre cá vieste, Subtil? tu agora o pagarás.

E começou a perguntar-lhe tudo; Maria nada negou, até que o rei lhe disse:

— Vem atraz de mim, que em casa tu as pagarás.

E cuidando que Maria vinha, foi andando; olhando de repente não viu nada, nem Maria, nem corda, nem por onde ella tinha saido. O rei ficou tão zangado, que adoeceu de paixão. As duas irmãs mais velhas casaram com dois amigos do rei e tiveram dois meninos. Maria pegou n’elles e metteu-os n’um açafate muito rico e enfeitou-o de flores muito finas de maneira que ninguem dizia levar duas crianças. Maria vestiu-se de rapaz e pôz o açafate á cabeça, e quando passou por casa do rei, apregoôu assim:


Quem leva estas flores

Ao rei, que tem mal de amores?


O rei que estava de cama mandou comprar o açafate; ella levou o cestinho, e quando chegou lá disse:

— Ai, que me esqueceu o outro!

E foi-se, deixando o cesto ao rei; elle ouviu guinchos dentro do cestinho, vae vêr, acha-se com duas crianças. Ficou muito raivoso, e prometteu vingar-se. Chegou o mercador, pae das meninas, e o rei mandou-lhe dizer por um pagem, que lhe fizesse uma casaca de pedra. O mer-