Vem os homens da rêde, bateram-lhe muitas, e clamaram:
— O que tu deves dizer, é que assim haja muito sangue.
Passa Pedro por um caminho onde estavam dois homens engalfilhados brigando, e outros tambem querendo apartal-os, e entra a dizer em altos gritos:
— Assim haja muito sangue, assim haja muito sangue.
Já se sabe, vieram ter com elle e deram-lhe muitas pancadas, e disseram-lhe:
— O que tu deves dizer é que Deus os desaparte, Deus os desaparte.
Vae-se Pedro de Malas-Artes por ali adiante, quando vinha um grande acompanhamento com um noivo e noiva que acabavam de se casar. Começa elle:
— Assim Deus os desaparte, assim Deus os desaparte.
Os convidados deram-lhe muita pancada e disseram:
— Oh homem, o que tu deves dizer é que d'estes cada dia um.
Indo mais para diante encontra um enterro de um homem muito estimado na terra, e entra a bradar:
— D'estes cada dia um, cada dia um.
A gente que seguia o enterro não teve mão que lhe não batesse muita pancada, e disseram-lhe:
— O que você deve dizer é que nosso senhor o leve direitinho para o céo.
Vae mais para diante, e vinha passando um baptisado, e começa Pedro de Malas-Artes:
— Nosso senhor o leve direitinho para o céo.
Os padrinhos da criança tomaram aquillo por máo agoiro, e desancaram Pedro de Malas-Artes, que botou a fugir e se não chegasse a casa ainda andava a levar pancadas por esse mundo.
(Porto.)