Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/332

Wikisource, a biblioteca livre

E disselhe a servente:

— Senhora, vos avedes huma grande tea de pano de linho, dadelhe quatro ou cinquo varas ou aquello que lhe avondar em que o soterrem.

E a senhora disselhe queyxosamente:

— Vay faze o que te mando, ca bem lhe avondarom tres varas de burel, segundo eu sey a sua condiçom e a sua vontade.

E estando en esto fallando a dona e a servente, ouviu esto aquel homem avarento, e esforçousse quanto pode pera fallar e disse:

— Nom comprade mais que tres varas de burel, e fazedeme o saco curto e grosso que se nom leixe en o lodo.

E depois que elle morreu assi lhe fezerom. E a molher casou com outro e lograram os beens que tesourou o avarento.


Mas per outra guisa fez outro homem que avia muytas riquezas. E quando se vio enfermo de morte, mandou trazer seu aver ante sy. E começoulhe a rrogar que o ajudasse en tal guisa que nom morresse. E quando viu que nom avia dellas ajuda nem conforto disse:

— Oo riquezas enganosas, eu vos amey de todo coraçom e vos prezey e honrrey. E agora que soõ posto en necessidade nom posso aver de vós nenhum conselho nem ajuda, e queredesme desemparar e nom vos queredes hir comigo. Pois assy he, eu vos leixarey de todo. E tanto que esto disse, deu-as todas em esmolas a pobres.

(Ib., Fl. 48.)




135. AS MISERIAS DA RIQUESA

Hum Rey era gentil e de maaos feitos. Avia hum boo conselheyro que avia desto grande tristeza e catava hum