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CONTOS E PHANTASIAS
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Timbravam em não se parecer com mais ninguem.

Mas não podiam eximir-se a um defeito especial que as fazia darem muito na vista. Occupavam-se extremamente de si.

Fallavam do seu boudoir, das suas toilettes, das meias de sêda de tres libras ou doze mil réis — as unicas que traziam — , do elegante edredon do seu leito, das finas perfumarias do seu toucador.

Isto fazia rir com riso amarello as amigas mais intimas, que diante de gente, costumavam puxar-lhes pela lingua.

De resto as filhas do visconde seguiam rigorosamente os preceitos e regras da alta-vida.

Tinham assignatura em S. Carlos, para serem vistas, e frequentavam assiduamente a egreja, para se parecerem com as filhas de condes pallidas e anemicas, cujo luxo superior é a devoção e a caridade, diluidas ambas as cousas em pequeninas praticas de todos os dias.

Sabiam conversar pouco mais ou menos sobre tudo, sendo no fundo d’uma crassa ignorancia ácerca de todas as cousas.

Como dissemos fôra franceza a mestra que as dirigira. Dera-lhes o verniz da educação, e mais nada.

De linguas sabiam o bastante para conversarem