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CONTOS E PHANTASIAS
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e que não tinham licença de brincar com aquelle pequeno histrião, feio, ridiculo, doente, com gesto de epileptico, com fatos de palhaço e com soluços de martyr.

 

II

 

Um dia, porém, fez-se na vida atormentada e tempestuosa do pequeno Thadeu uma claridade de luar, uma claridade opalisada e doce.

Houve treguas nos seus varios martyrios, e sua mãe, n’uma bella manhã de primavera em que os passaros cantavam ao desafio nas grandes arvores do jardim, levou-o pela mão, pé ante pé, a um quarto forrado de setim côr de rosa, um quarto digno de servir de habitação á fada mais linda que uma phantasia de poeta oriental houvesse imaginado.

N’aquelle quarto havia um ninho todo branco feito de rendas, de fitas de setim, de pennugem de passaros, e n’esse ninho dormia uma creancinha que parecia uma rosa.

— É tua prima; murmurou baixinho a mãe de Thadeu, emquanto este, mudo, surpreso, extasiado, fitava os seus olhos vitreos, onde o jubilo acendia uma luz desusada, nos grandes olhos luminosos e pasmados do bébé que acordára.