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CONTOS E PHANTASIAS
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Entraram os dous e recuaram surprehendidos ante a mudança que observaram.

No meio do quarto estava uma grande mala escura cravejada de pregos amarellos; em cima do canapé esgarçado avultavam montes de roupa branca, e pequenas malas inglezas com fechos dourados e reluzentes. As gavetas da commoda estavam corridas, havia n’aquelle quarto em fim a apparencia d’uma casa saqueada...

— O que é isto, seu Cerqueira?

— É o que vocês estão vendo. Ámanhã é o dia da partida... Resolvi-me emfim...

— E eu que tinha apostado aqui com o seu Fernandes que você nunca se resolvia...

— Pois, meu amigo, perdeu a aposta, cortou o Cerqueira, sorvendo sybariticamente uma pitada.

Na manhã do dia seguinte, no tombadilho d’um dos vapores da Companhia do Pacifico, emquanto os dous socios do Cerqueira riam e diziam facecias, deitando com ares de casquilhos atabalhoados as lunetas a algumas francezas, que, com os seus vestidos de fazendas claras animavam alegremente aquelle conjunto de pessoas possuidas de tão estranhos e contradictorios sentimentos, o nosso viajante olhava com os olhos de quem se despede de um sitio amado para os armazens, para os trapiches que se retratavam nas aguas da bahia,