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CONTOS E PHANTASIAS
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Quando Cerqueira bateu á porta da casa pulava-lhe o coração de um modo desusado.

— Quem é?

— Alguem é, respondeu o viajante.

— Pois empurre o postigo, puxe pela aldraba e entre, se isso o não incommoda.

Assim o fez o nosso Cerqueira e entrou na saleta em que a tia Genoveva dobava...

Ante aquelle homem estranho, a velha surprehendida parou, e pondo uma das mãos diante dos olhos como uma palla:

— Que me quer vossemecê?

— Um abraço e um beijo, balbuciou o que entrara com voz enternecida e expirante...

— Elle que diz? Ó Christo!

E levantando-se foi direita á janella para chamar por soccorro imaginando vêr-se a braços com um doudo.

— Olhe que não estou doudo, santinha! Venho de longe e trago-lhe um beijo e um abraço de uma pessoa que é muito sua amiga.

— Do meu Francisco? exclamou a velha. Venham de lá não só um mas muitos abraços, que elle no dinheiro é mais generoso, valha-o Deus! Um só abraço!

E a velhita apertou nos braços Cerqueira, que com as lagrimas nos olhos murmurava: