Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/239

Wikisource, a biblioteca livre
CONTOS E PHANTASIAS
233

Tu nunca viste um olhar assim, Naly, nem eu, e Deus nos defenda de o vermos nunca!

Foi mudo, foi longo, foi sinistro! Um poema de agonias silenciosas!

Depois o pae de Bertha, afastando a creança com um gesto lento, desdobrou o papel e leu.

Já lá vai um anno depois d’aquella noite de festa, em que Bertha alcançou licença para se deitar ás nove horas.

N’um anno quantas differenças póde fazer uma existencia!

É muda e triste a casa onde vimos tantos risos, está descuidado e cheio de hervas o jardim onde brincava um pequenino sêr feito da luz das auroras, e da innocencia dos lyrios.

Bertha está doente.

Na sua alcova branca e silenciosa, á luz dubia de uma lamparina de jaspe, vela uma criada, emquanto a loura pequenina fita no tecto os grandes olhos azues e parece seguir as visões phantasticas de um sonho de febre.

Ao principio era feliz, muito feliz. Quem e que viera destruir todas aquellas alegrias que pareciam