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CONTOS E PHANTASIAS

monetarios, são queixas dilacerantes a que se segue uma longa risada de inoffensiva ironia; porque elle, que soube pintar tão bem os cynicos, os depravados, os terriveis escarnecedores, cujo riso corroia como um caustico, era no intimo bom, quasi infantil; depois confidencias, esperanças, sonhos politicos, sonhos financeiros, sonhos industriaes, planos gigantescos de trabalho, phantasias de artista, desejos de mulher garrida e bonita, observações profundas, divagações poeticas, melancolias de alma solitaria que ninguem na terra sabia entender.

Entendia o ella, a adoravel slava, que vêmos atravez d’estas cartas, altiva para todos, consoladora e maternal para elle; grave, magestosa, fidalga como a sua velha raça, e no entanto cheia de graciosas delicadezas, que endoideciam de jubilo e de amor o plebeu namorado de todos os requintes aristocraticos, o trabalhador eternamente exilado de todas as alegrias do amor, o artista que tão bem sabia avaliar o lado elevado e bello de todos os sentimentos.

É um estudo interessante e curiosissimo vêr como o tom ao principio respeitosamente affectuoso das cartas de Balsac vae seguindo gradações successivas e harmonicas, tornando-se terno, apaixonado, confiante, expansivamente amoroso.