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CONTOS E PHANTASIAS
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desejos infantis, de caprichos, de alegrias ruidosas ou de melancolias subitas que ás vezes no silencio da sala fôfa e discreta pareciam a Thadeu um grito de alarme na monotonia do deserto.

As criancinhas... sempre os seus mais dôces amores, aquelles de que jámais lhe proviera uma amargura.

Quando Thadeu pensava que podia uma fatalidade qualquer separal-o dos seus dous anjos, desatava a chorar como um perdido na solidão do seu quarto.

 

XIII

 

Elle estava sentado ao pé da mesa. Primeiro estivera fazendo contas, róes de casa, agora pendia-lhe a cabeça embevecido n’uma vaga scisma.

Sem saber explicar por que, n’aquelle dia lembravam-lhe tantas cousas do seu passado!...

Sentia dentro de si uns vagos assomos de revolta, lembrando-se das humilhações que padecêra, dos tratos com que lhe haviam enfraquecido o corpo e atrophiado a intelligencia. Depois... na sua vida, até ali obscura e dolorosa, surgia de repente envolta nas rendas brancas do seu berço uma visão deliciosa, uma pequena fada, a sua amiguinha, a sua Margarida!...