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CONTOS E PHANTASIAS

para mim. Quem manda n’aquella casa é minha mãe, e ha-de mandar em quanto fôr viva. Ella ralha, ella grita, ella dá por paus e por pedras, por dá cá aquella palha. Deixal-a! Quando rabuja de mais, saio de casa, e a Joanna que a ature! São mulheres, e lá se entendem. Se eu me casasse, tinha de acudir por uma ou por outra... Nada! boi solto lambe-se todo...

E ainda solteiro fechou os olhos da mãe que lhe morreu nos braços.

Joanna ficou senhora de tudo. Era ella que olhava pela casa, que dava ordens, a verdadeira dona da casa emfim. Aquelle novo modo de vida, porém, começou a pesar-lhe, entrou a ter saudades do antigo jugo, queria receber ordens e não dal-as; a domesticidade era para ella um habito de que não havia desacostumal-a.

— Sabe o que mais, sô Sebastião? disse ella um dia ao patrão. O tempo das rapasiadas passou. Por que não toma estado? Moças é que não faltam. É verdade que o mundo vai perdido de todo, mas ainda ha raparigas perfeitas e tementes a Deus.

— Endoudeceste, Joanna! Eu caso me lá, n’esta edade! Só se fôr comtigo...

— Lá começa elle com as tolices do costume.

Agua molle em pedra dura...

O tio Sebastião entrou um dia em casa com noiva.