Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/76

Wikisource, a biblioteca livre
70
CONTOS E PHANTASIAS

Sebastião entrou a ser explorado; pediam-lhe dinheiro que nunca era restituido, vestiam-lhe o fato, calçavam-lhe as botas, e comiam-lhe ceias abundantes e regadas de vinhos caros.

Com aquella vida era incompativel o estudo e a reflexão. Deixou de ir ás aulas. Enganava o tio e o pae, enviando-lhes certidões falsas dos actos que nunca fizera.

Havia dous annos já que não ia á aldeia, cujo viver lhe aborrecia e se lhe figurava mesquinho e chato.

Quando os estudantes partiam para férias, contentes e alegres para os abraços da familia, Sebastião Alves deixava tambem Coimbra, percorria as praias, ia ao Porto, a Cintra, ao Bussaco.

Aquella vida inutil e varia era de quando em quando remordida pelo remorso, todas as vezes que o vadio recebia as cartas do pae, que, apesar de não terem ortographia, e de serem escriptas com uma lettra grotesca e pesada, lhe avivavam o entranhado amor com que elle era querido por aquelle amantissimo coração de velho.