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ROGERIO BRITO
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Medindo a rua que lhe fica em frente,
Longa, sósinha, estupida.

— Eil-a! murmura. O ang’lo rectilineo
Que dos lampeões descreve a dupla fila,
Aos seus olhos esplendido scintilla
Com effeitos phantasticos.

Já viste alguma vez, leitor benevolo,
A rua do Ouvidor de madrugada?
Dir-se-ia uma travessa abandonada,
Uma viela insipida.

Quando o nosso inditoso comediographo
Entrou a percorrer a rua, tudo
Deserto estava, solitario e mudo,
Como velha necropole.

Apenas dois agentes da ordem publica
Mal animavam essas horas mortas,
E tomava café um grupo ás portas
Do Jornal do Commercio.

Era de junho a madrugada, e, humido,
Não convidava o tempo a estar a gente
Longe do bom colxão flacido e quente
E dos lençóes beneficos.

Porém Rogerio, allucinado o cerebro,
De par em par as lojas viu abertas,
E as lages dos passeios viu cobertas
De individuos em transito.