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CONTOS PARAENSES
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Um rumor d’agua revolvida vinha pelo intersticio das folhas de madeira entre-cerradas, em mescla a um suave aroma de japana e mangerona sensualmente esmagadas em opoponax, diluidas na doce tepidez da agua.

Marócas tomava o costumado banho da noite, com a porta aberta, na simples ingenuidade descuidosa da sua tranquilla innocencia de mulher que em nada de mau pensa.

Quiz o velho retroceder, porventura ruborisado do passo que estava dando. Sem o desejar, espreitara pela frincha da porta, e um bello corpo, feito d’ámbar e leite, emergia da banheira, no meio do quarto, vaporisando a tépida emanação subtil das suas frescas, rosadas carnes bellamente seductoras e deliciosamente juvenis.

Um desejo brutal incendiou-lhe o sangue, ao tempo que as narinas, afflando precípites, aspiravam com vigor o aroma das excitantes plantas. Empurrou a porta, correu para junto da mulher e lançou-se-lhe aos pés, choroso, supplicante, todo caricias e doces palavras bondosas, impetrando o perdão, solicitando um armistício, pedindo pazes selladas com a ardencia d’uma deliciosa e suprema compensação!

Ella, porém, a Marócas, impassivel e impertubavel — ao tempo que envolvia-se toda em fino lençol de transparente cambraia, n’um gracioso rubor de impeccavel