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CONTOS PARAENSES
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precipitados pulos ao coração. Conservou-se, todavia, immovel deante do branco, e olhava para elle, como desejando dizer-lhe alguma coisa.

Elle pareceu comprehendel-a:

— Queres que a leia?

— Sim, sinhô, respondeu Josepha, entregando-lhe apressada a carta e preparando-se para ouvil-a, para saborear-lhe o gosto transcendente dos sentidos, a divina musica ignorada das dôces palavras escriptas pela mão infantil da filha.

O socio do Castro leu:

 

MINHA QUERIDA MÃE,

Escrevo-lhe de Paris, onde estou aprendendo n’um collegio e d’onde lhe envio milhares de beijos n’esta carta, a primeira que por meu punho escrevo, para lhe contar, se podesse, as muitas saudades que tenho da minha santa mãe e o grande desejo que sinto de estudar muito, para voltar depressa para onde está a mãesinha do meu coração. Ante-hontem fiz dez annos e o meu protector offereceu-me uma bonita penna d’ouro, dizendo-me que com ella deveria escrever-lhe esta carta, minha boa mãe. Tenho passeado muito e gostado immenso d’esta bella cidade, onde o meu