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MARQUES DE CARVALHO

como um carbúnculo: o tabaco a arder no cachimbo do caboclo. Este se tornára invisivel na densidade das trevas.

Antonio e Luiza sentiram-se bem n’aquella solidão: entraram a conversar baixinho, muito unidos, de mil cousas que lhes compunham o passado de tão agradaveis recordações. Era para ambos uma innarravel felicidade poderem pairar, assim a sós, das peripecias do curto namôro, dos longos annos que elle passou a amal-a silenciosamente, das emoções e impaciencias do dia do casamento, quando approximava-se a hora em que o parocho de Sant’Anna teria de unil-os.

Soltavam risadinhas indiscretas, acariciavam-se com amor, com delicias, n’uma excitação dos sentidos. Um movimento instinctivo, — inconsciente, talvez; cheio de affecto e volupia, com certeza, — uniu-lhes os labios n’um prolongado beijo de paixão, vibrante como um côro juvenil.

Ouvindo-o, o velho caboclo estremeceu, mudou de posição.

Poz-se a pensar nas passadas e saudosas épocas da sua felicidade, fruída com a finada mulata, a quem tanto queria, no meio da vegetação selvatica e cheia de grandiosidade das florestas amazonicas...

E um suspiro profundo, traduzindo uma saudade dolorosíssima, respondeu áquelle