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Dos apontamentos que da Bahia recebi a respeito de dona Anna Autran, subministrados por pessoa de sua familia, e portanto authenticos, consta o seguinte:

« Aos quatro annos de idade já apresentava uma notavel aptidão para as lettras, ora decorando com facilidade versos, orações e pequenos discursos, ora argumentando com uma logica nunca vista nesta idade sobre pontos de arithmetica e religião.

« Um anno depois jà lia qualquer escripto que se lhe apresentasse, e aos nove annos incompletos finalisava os seus primeiros estudos com louvor e admiração de seus proprios mestres.

« Aos dez annos começou a sua vida litteraria com a estréa de uma poesia repassada de ternura e melancolia; e aos doze principiou a dar publicidade a alguns escriptos.

« Com quatorze sustentou pela imprensa uma renhida discussão litteraria por alguns mezes - A mulher e a litteratura - com uma das primeiras capacidades de sua provincia, etc. »

Escreveu:

- A mulher e a litteratura: serie de artigos publicados no Diario da Bahia de 15 de julho a 15 de novembro de 1871 - São os artigos da discussão a que se referem os apontamentos que possuo. Era seu contendoro o distincto e illustrado jornalista Bellarmino Barreto, de quem se trata neste volume.

- Devaneios: poesias. Bahia, 1877, 253 pags. in-8º- Precedem este livro o juizo critico do doutor Filgueiras Sobrinho e de Domingos Joaquim da Fonseca, a dedicatoria a seu pai, e o prologo. Contém 54 composições poeticas.

- Suspiros hungaros - Sahiu este escripto no Diario da Bahia do 20 de julho de 1878.

- Os desterrados da Siberia - No Monitor da Bahia, de 28, 29, 30 e 31 de outubro e de 1 de novembro de 1879.

Das diversas composições poeticas, que dona Anna Autran tem exparsas, umas impressas, outras manuscriptas por mãos diversas, transcrevo a seguinte, que se acha no « Novo almanak de lembranças luso-brazileiro para o anno de 1873 » publicado em 1872, quando tinha a autora quinze para dezeseis annos:

- Teus olhos.

      Ai de mim.
Já não sei qual'fiquei sendo
      Depois que os vi.
                      (G. DIAS.)

     Teus olhos lindos, brilhantes,
a fitar meus olhos vi;
olhei outra vez, olhei-os,
e ainda olhavam para mi...
Baixei os melus - e corando,
Olhei de novo e tremi...