Página:Dom Casmurro.djvu/167

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— Ah ! sorriu elle.

Sorriu, e continuando a procurar n'um livro aberto a hora em que tinha de cantar no dia seguinte, confessou-me que não fizera mais versos depois de ordenado. Foram cócegas da mocidade; coçou-se, passou, estava bom. E falou-me em prosa de uma infinidade de cousas do dia, a vida cara, um sermão do padre X... uma vigairaria mineira...

Contrario a isso foi um seminarista que não seguiu a carreira. Chamava-se... Não é preciso dizer o nome; baste o caso. Tinha composto um Panegyrico de Santa Monica, elogiado por algumas pessoas e então lido entre os seminaristas. Alcançou licença de imprimil-o, e dedicou-o a Santo Agostinho. Tudo isso é historia velha; o que é mais moço é que um dia, em 1882, indo ver certo negocio em repartição de marinha, alli dei com este meu collega, feito chefe de uma secção administrativa. Deixára seminario, deixára lettras, casára e esquecera tudo, menos o Panegyrico de Santa Monica, umas vinte e nove paginas, que veiu distribuindo pela vida fóra. Como eu precisasse de algumas informações, fui pedir-lhas, e seria impossivel achar melhor nem mais prompta vontade; deu-me tudo, claro, certo, copioso. Naturalmente conversámos do passado, memorias pessoaes, casos de estudo, incidentes de nada, um livro, um verbo, um mote, toda a velha palhada saiu cá fóra, e rimos juntos, e suspirámos de companhia. Vivemos algum tempo do nosso velho seminario. Ou porque eram delle, ou porque eramos então moços,