Página:Dom Casmurro.djvu/176

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lendo do verdade; creio que era quando os olhos me caíam na palavra do fim da pagina, e a mão, acostumada a ajudal-os, faziam o seu officio...

Eis aqui outro seminarista. Chamava-se Ezequiel de Souza Escobar. Era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo. Quem não estivesse acostumado com elle podia acaso sentir-se mal, não sabendo por onde lhe pegasse. Não fitava de rosto, não falava claro nem seguido; as mãos não apertavam as outras, nem se deixavam apertar dellas, porque os dedos, sendo delgados e curtos, quando a gente cuidava tel-os entre os seus, já não tinha nada. O mesmo digo dos pés, que tão depressa estavam aqui como lá. Esta difficuldade em pousar foi o maior obstaculo que achou para tomar os costumes do seminario. O sorriso era instantâneo, mas tambem ria folgado e largo. Uma cousa não seria tão fugitiva, como o resto, a reflexão; iamos dar com elle, muita vez, olhos enfiados em si, cogitando. Respondia-nos sempre que meditava algum ponto espiritual, ou então que recordava a licção da vespera. Quando elle entrou na minha intimidade pedia-me frequentemente explicações e repetições miudas, e tinha memoria para guardal-as todas, até as palavras. Talvez esta faculdade prejudicasse alguma outra.

Era mais velho que eu trez annos, filho de um advogado de Corityba, aparentado com um commerciante do Rio de Janeiro, que servia de correspondente ao pae. Este era homem de fortes sentimentos catholicos.