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da rua de Matacavallos, que tem um filho, Bentinho... »

A sege ia tanto com a vida recondita de minha mãe, que quando já não havia nenhuma outra, continuámos a andar nella, e era conhecida na rua e no bairro pela « sege antiga ». Afinal minha mãe consentiu em deixal-a, sem a vender logo; só abriu mão della porque as despezas de cocheira a obrigaram a isso. A razão de a guardar inutil foi exclusivamente sentimental; era a lembrança do marido. Tudo o que vinha de meu pae era conservado como um pedaço delle, um resto da pessoa, a mesma alma integral e pura. Mas o uso, esse era filho tambem do carrancismo que ella confessava aos amigos. Minha mãe exprimia bem a fidelidade aos velhos hábitos, velhas maneiras, velhas ideias, velhas modas. Tinha o seu museo de relíquias, pentes desusados, um trecho de mantilha, umas moedas de cobre datadas do 1824 e 1825, e, para que tudo fosse antigo, a si mesma se queria fazer velha; mas já deixei dito que, neste ponto, não alcançava tudo o que queria.