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CXXVII

O barbeiro.

Perto de casa, havia um barbeiro, que me conhecia de vista, amava a rabeca e não tocava inteiramente mal. Na occasião em que ia passando, executava não sei que peça. Parei na calçada a ouvil-o (tudo são pretextos a um coração agoniado), elle viu-me, e continuou a tocar. Não attendeu a um freguez, e logo a outro, que alli foram, a despeito da hora e de ser domingo, confiar-lhe as caras a navalha. Perdeu-os sem perder uma nota; ia tocando para mim. Esta consideração fez-me chegar francamente á porta da loja, voltado para elle. Ao fundo, levantando a cortina de chita que fechava o interior da casa, vi apontar uma moça trigueira, vestido claro, flôr no cabello. Era a mulher delle; creio que me descobriu de dentro, o veiu agradecer-me com a presença o favor que eu fazia ao marido. Se me não engano, chegou a dizel-o com os olhos.